Acadêmico





Cadeira 4: Profa. Dra. Anayde Correa de Carvalho

Patrono: Profa. Dra. Anayde Correa de Carvalho

Acadêmico: Profa. Dra. Almerinda Moreira



Profa. Dra. Anayde Correa de Carvalho

Escolhi ocupar a cadeira cuja patronesse é Anayde Corrêa de Carvalho por reconhecer nela um ícone, uma das pioneiras da enfermagem brasileira, em especial na pesquisa da História da Enfermagem.

Anayde Corrêa de Carvalho nasceu em Ribeirão Preto, no dia 20 de julho de 1916, filha de Pedro Corrêa de Carvalho e Elza Morandini de Carvalho, de ascendência alemã, portanto, muito rígida na educação dos sete filhos: Augusta, Mariana, Anayde, Amália, Manoel Francisco, Maria e Pedro. Passou sua infância na fazenda do pai e estudou no Colégio Santa Úrsula. Após os estudos de nível fundamental nesse colégio, completou o antigo curso normal para formação de professores de nível primário, chegando a lecionar por algum tempo em escola primária. Sobre sua escolha pela enfermagem disse, em entrevista, certa vez, que foi induzida pela irmã, Amália Correa de Carvalho, que já estava na Escola e dizia gostar demais do curso. Sua irmã foi muito atuante na enfermagem e, ao retornar para casa, elogiava tanto a Escola de Enfermagem que seu pai a incentivou a fazer também o curso. Dizia ela: “fui e gostei muito do curso”.

Graduou-se pela quarta turma da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP), em 1949. Quando estudante da EEUSP, residia na escola, no internato. Iniciou sua vida profissional no berçário do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, e assumiu a chefia do Centro Cirúrgico do mesmo hospital, de onde foi chamada, em 1950, para tornar-se Vice-Diretora da Escola de Enfermagem, na Bahia, fundada em janeiro de 1946. Atualmente, essa escola pertence a Universidade Federal da Bahia (UFBA). Em 1951, com o afastamento da Diretora Jandyra Coelho, Anayde tornou-se Diretora da Escola, onde trabalhou por dois anos, retornando a EEUSP, lecionando a disciplina Enfermagem Médica, mas a maior parte de sua atuação na Escola foi no setor administrativo técnico, cuidando das escalas, pagamentos dos docentes e etc. Em 1952, viajou com bolsa de estudos da Fundação Kellogg, para os Estados Unidos, para estudar no Teachers College, da Universidade Columbia, em Nova York, de onde regressou em 1954, para assumir funções de Coordenação Técnica na EEUSP. Simultaneamente, ocupou ainda o cargo de Presidente da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn), Seção de São Paulo, de 1956 a 1958. Onde trabalhou muito pela ABEn e também pela Revista (Brasileira de Enfermagem).

Na função de coordenadora técnica da EEUSP, foi convidada, em 1962, para participar de um seminário para diretores e professores de cursos de pós-graduação em Enfermagem, na Jamaica, por 20 dias, patrocinado pela Organização Mundial da Saúde. Em 1963, foi novamente para os Estados Unidos para estágios e visitas de observação em escolas de enfermagem americanas, com bolsa de estudos da Fundação KelloggEra a preparação necessária para melhor fundamentar o programa de pós-graduação na área de administração de unidades e de serviços de enfermagem, que eram oferecidos na EEUSP desde 1959. Exerceu grande influência na formação de várias gerações de enfermeiros, especialmente na área de administração e gerenciamento de enfermagem.

Anayde Corrêa de Carvalho deixou como legado um livro intitulado Associação Brasileira de Enfermagem – Documentário – 1926-1976, publicado em 1976, com 514 páginas (CARVALHO, 1976). Ao descrever os primeiros 50 anos de história dessa organização, trabalho esse de cinco anos de pesquisas, reproduziu minuciosamente a própria história da enfermagem brasileira e das líderes que forjaram os destinos da profissão no período estudado. Reconstruiu a história da ABEn. Cabe destacar que o relato da história da ABEn, da profissão e das profissionais que a conformavam a época, contido em sua obra, ajudou a delinear a construção da identidade da enfermagem profissional brasileira de hoje. A primeira edição de seu livro foi inteiramente doada a ABEn, e é considerado uma obra clássica pela literatura, especialmente em História da Enfermagem, sendo um livro básico para os pesquisadores da Enfermagem. A segunda edição dessa obra foi publicada pela ABEn, em 2006. No entanto, o conteúdo pelo qual a autora é responsável não foi alterado, houve o acréscimo de um depoimento da Profa. Dra. Ieda de Alencar Barreira, na contracapa (BARREIRA, 2006) e uma nota sobre a autora, no final do livro, de autoria da Profa. Dra. Taka Oguisso (OGUISSO, 2006).

Anayde Corrêa de Carvalho na enfermagem brasileira teve o propósito de produzir conhecimento. Com a vida profissional dedicada mostra-se como uma das pioneiras mais ativas e atuantes, embora quase sempre de forma invisível, pois preferia trabalhar pela enfermagem nos bastidores, oferecendo apoio em silêncio. Continuou na EEUSP ministrando aulas de Administração aplicada à Enfermagem, onde foi escolhida várias vezes como paraninfa de turmas. Aposentou-se em 1979Em entrevista, dada em 2013, dizia: “é preciso que profissionais de enfermagem na área assistencial direcionem mais sua atenção para a devida assistência aos pacientes, alvo principal da profissão. E os docentes devem ensinar e dar o exemplo de como cuidar dos pacientes com a devida ciência, arte e técnica, sem descuidar do ideal que deveria permear todas as ações de enfermagem”.

Continuando sua trajetória foi uma das incentivadoras da criação da ABRADHENF (2010), foi nosso primeiro Membro Benemérito e veio a falecer em sua residência na cidade de Ribeirão Preto, em 11 de fevereiro de 2019, com 102 anos de idade. Minha homenagem a Anayde Corrêa de Carvalho, cuja cadeira hoje tenho a honra de ocupar.

Texto de Profa. Dra. Almerinda Moreira

 


Profa. Dra. Almerinda Moreira

A carreira acadêmica Profa. Dra. Almerinda Moreira teve início na Escola de Enfermagem e Obstetrícia Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP) (1975), com Mestrado em Enfermagem pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) (1990) e Doutorado em Enfermagem pela Universidade de São Paulo (USP) (2003).

Destaco sua atuação como pesquisadora na área de História da Enfermagem e como Diretora da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto/Unirio, de 2012 a 2016. Além disso, é membro fundador do Laboratório de Pesquisa de História da Enfermagem (Laphe/EEAP-Unirio) e membro do Laboratório de Estudos em História da Enfermagem (LAESHE), da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP-USP) que, somando-se a sua pós-graduação, dão exemplos de esforços de trabalho em rede e cooperação.

Seu espaço dentro da ABRADHENF também foi evoluindo: iniciou como membro fundador, Diretora de Comunicação Social, na gestão 2010-2014 e 1ª Secretária na gestão de 2014-2016, ocupando atualmente a presidência até 2020.

Suas muitas contribuições para o campo da pesquisa em História da Enfermagem se assemelham a cadeira escolhida por ela, denominada Anayde Correa de Carvalho, grande dama da História da Enfermagem brasileira e da Associação Brasileira de Enfermagem e que, há pouco tempo, quando ainda entre nós, foi grande entusiasta e patrocinadora da ABRADHENF – assim como a Dra. Almerinda Moreira, uma mulher educada, brilhante e com pouca atração aos holofotes ou status.

Sua dissertação de mestrado e tese de doutorado preencheram lacunas importantes na historiografia da Enfermagem brasileira e agregaram importante valor a história da primeira Escola de Enfermagem do Brasil, atual Escola de Enfermagem Alfredo Pinto.

Além disso, organizou livros e produziu capítulos de livros em materiais didáticos e artigos que muito tem colaborado para o ensino de História da Enfermagem em todo o Brasil.

Dessa forma, a concessão do título de acadêmico da ABRADHENF a Profa. Dra. Almerinda Moreira promove a valorização dessa importante pesquisadora da área de História da Enfermagem e, ao mesmo tempo, agrega ao hall de acadêmicos da ABRADHENF mais um brilhante pesquisador, que continuará contribuindo para a Academia.

Texto por Profa. Dra. Luciana Barizon Luchesi